Dizia-se incomodado por tal estado, impotente diante de sinais com um furor cronológico incomensurável. Isso me fez refletir.
Preparei ma mesa para dois com todas as exigências que dita a etiqueta. Preparei os convites: "Ao ilustríssimo senhor Tempo". Convites respondidos.
Lá estavamos nós, só nós. A mesa redonda com duas cadeiras, duas taças: uma com vinho, outra com água apenas - o convidado alegou não beber em serviço. Uma luminaria nos delimitava o espaço visível, o resto... penumbra.
Comecei o colóquio tão desejado com um questionamento, tal esse que me corroia as têmporas em indagações sem fim.
- Bem senhor...
Fui logo interrompido pelo convidado em um tom de superioridade explicativa ao mesmo tempo que cordial.
- Por gentileza, senhor não: tempo, apenas tempo.
- Perdão, Tempo. Enfim, marquei esse encontro por motivos que dantes já me tiravam o sono.
- Adiante. Falou-me com uma seriedade sem igual. Levando a boca sua taça com água em um degustar estranho e prazeroso
- Como ia dizendo, não é de hoje que vejo amigos de que muito estimo, queixando-se de como o tempo tem-lhes sido implacável: "... doi-me ao pensar que tao pivete, até ontem assim ainda permanecia, e olhe agora! Como cresceu! Deus o tempo de fato passou... me sinto velho." Com essas palavras se queixam. Ora - disse inquieto ao mesmo tempo que ancioso - me adiantarei logo a pergunta que me salta a boca. Por que... qual o sentido de seu ofício? O que tens tu, Tempo, como prazer para seguir tal tarefa: fazer-nos sentir não mais como jovens e potentes como cavalos selvagens, fortes e viris, que nada vêm a sua frente além de uma pradaria livre e plana para cavalgar, mas sim como coadjuvantes de nossa própria história? O que te motivas para seguir vendo, como um prazer mórbido, anos e anos de nossas vidas esvaindo-se como areia da praia dentre os dedos?
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